(20) Psicologia Sistêmica
A Psicologia Sistêmica é uma abordagem que compreende o indivíduo não isoladamente, mas dentro de um sistema de relacionamentos mais amplo, como a família, o casal, a equipe de trabalho ou outros grupos sociais significativos. A premissa fundamental é que o comportamento de um membro do sistema influencia e é influenciado pelo comportamento de todos os outros membros, criando padrões de interação e dinâmicas complexas. Em vez de focar exclusivamente na patologia individual, a psicologia sistêmica investiga os padrões de comunicação, as regras implícitas, a estrutura de poder e os ciclos de feedback que operam dentro do sistema.
A abordagem sistêmica utiliza conceitos da teoria geral dos sistemas, da cibernética e da teoria da comunicação para entender como os sistemas se autorregulam e mantêm seu equilíbrio (homeostase). Os problemas psicológicos são vistos não como características inerentes ao indivíduo, mas como sintomas de disfunções no sistema como um todo. O indivíduo "sintomático" pode ser visto como expressando ou carregando as dificuldades do sistema.
Na prática terapêutica sistêmica, o foco da intervenção não é apenas o indivíduo identificado como "paciente", mas todo o sistema relevante. O terapeuta busca compreender a perspectiva de cada membro do sistema, as alianças e coalizões existentes, e os padrões de interação que perpetuam o problema. A comunicação é vista como um elemento crucial, e a terapia muitas vezes se concentra em identificar e modificar padrões de comunicação disfuncionais, como mensagens paradoxais, dupla ligação ou escalada simétrica.
Diferentes escolas de pensamento surgiram dentro da psicologia sistêmica, incluindo a Escola de Milão, conhecida por suas intervenções estratégicas e paradoxais que visam perturbar os padrões disfuncionais do sistema; a Terapia Familiar Estrutural, desenvolvida por Salvador Minuchin, que se concentra na reorganização da estrutura familiar e no estabelecimento de limites mais claros; e a Terapia Narrativa, que vê os problemas como construções sociais e busca ajudar os indivíduos e famílias a recontarem suas histórias de maneiras mais empoderadoras.
A terapia sistêmica frequentemente envolve a participação de múltiplos membros do sistema nas sessões, embora também possa ser aplicada no trabalho individual, explorando as dinâmicas relacionais internalizadas do paciente. O objetivo geral é promover mudanças no sistema que levem a uma maior flexibilidade, comunicação mais eficaz e resolução dos problemas apresentados. A abordagem valoriza a perspectiva relacional e contextual na compreensão do comportamento humano e do sofrimento psicológico. A intervenção busca facilitar novas formas de interação e a criação de soluções colaborativas dentro do sistema.
(21)  Terapia Familiar Sistêmica: Foco nas dinâmicas e padrões de interação dentro dos sistemas familiares.
A Terapia Familiar Sistêmica (TFS) é uma abordagem terapêutica que compreende os problemas psicológicos e comportamentais como manifestações de dinâmicas disfuncionais dentro de um sistema familiar. Em vez de focar no indivíduo isoladamente, a TFS examina os padrões de interação, a comunicação, as regras implícitas, a estrutura de poder e os ciclos de feedback que operam no sistema familiar como um todo.
A premissa central é que os sintomas apresentados por um membro da família (o "paciente identificado") muitas vezes refletem um desequilíbrio ou um padrão problemático que envolve todos os membros do sistema. O comportamento de cada indivíduo é visto como interconectado e influenciado pelos outros, e a mudança em um membro pode levar a mudanças em todo o sistema.
A TFS busca identificar e modificar os padrões de interação disfuncionais que mantêm o problema. O terapeuta atua como um facilitador, ajudando a família a tomar consciência de suas dinâmicas, a melhorar a comunicação, a resolver conflitos e a desenvolver formas mais saudáveis de relacionamento. Diferentes escolas dentro da TFS, como a Escola de Milão (com intervenções estratégicas e paradoxais) e a Terapia Familiar Estrutural (de Salvador Minuchin, focada na reorganização da estrutura familiar e dos limites), oferecem diferentes técnicas e perspectivas para alcançar esses objetivos.
A TFS pode envolver sessões com múltiplos membros da família e visa promover mudanças que beneficiem o sistema como um todo, levando a uma maior flexibilidade, comunicação eficaz e resolução dos problemas apresentados. A ênfase está na compreensão do contexto relacional dos problemas e na capacitação da família para encontrar suas próprias soluções.
(22) A Escola de Milão, uma vertente influente da Terapia Familiar Sistêmica, notabilizou-se por sua abordagem estratégica e pelo uso de intervenções paradoxais. Desenvolvida inicialmente por um grupo de terapeutas italianos (Mara Selvini Palazzoli, Luigi Boscolo, Gianfranco Cecchin e Giuliana Prata), a Escola de Milão buscava perturbar os padrões de interação disfuncionais que mantinham os problemas familiares, em vez de simplesmente interpretar ou confrontar os sintomas individuais.
A abordagem estratégica da Escola de Milão enfatizava a importância de compreender a "jogo" familiar, ou seja, os padrões repetitivos e as regras implícitas que governavam as interações e perpetuavam o problema. O terapeuta atuava como um investigador, buscando identificar as premissas que sustentavam esses padrões e as maneiras pelas quais a família tentava, sem sucesso, resolver suas dificuldades.
As intervenções paradoxais eram uma marca registrada dessa escola. Em vez de instruir diretamente a família a mudar, o terapeuta frequentemente prescrevia o próprio comportamento sintomático ou o exacerbava, com o objetivo de quebrar o padrão rígido e forçar a família a se comportar de maneira diferente. Por exemplo, um terapeuta poderia instruir uma família a continuar brigando em determinados horários, tornando o comportamento automático consciente e, assim, abrindo espaço para a mudança.
Outras técnicas características incluíam a conotação positiva, na qual o terapeuta atribuía uma intenção positiva ao comportamento sintomático, reformulando-o como uma tentativa (embora disfuncional) de manter o equilíbrio familiar. Isso visava reduzir a culpa e a resistência, facilitando a compreensão sistêmica do problema. O uso de perguntas circulares, que exploravam as diferenças de percepção entre os membros da família sobre os problemas e os relacionamentos, também era fundamental para mapear as dinâmicas familiares.
A Escola de Milão operava frequentemente com uma equipe de terapeutas, onde parte da equipe conduzia a sessão enquanto o restante observava por trás de um espelho unidirecional. Após a sessão, a equipe discutia suas observações e formulava uma intervenção para a próxima sessão, que era então comunicada à família.
Embora a formação original da Escola de Milão tenha se fragmentado ao longo do tempo, seus princípios e técnicas continuam a influenciar a prática da terapia familiar sistêmica. A ênfase na compreensão dos padrões interacionais, no uso estratégico de intervenções e na perturbação da homeostase disfuncional permanece como uma contribuição significativa para o campo da terapia familiar. A abordagem paradoxal, em particular, desafiou as formas tradicionais de intervenção terapêutica, introduzindo uma perspectiva mais indireta e estratégica para promover a mudança nos sistemas familiares.
(23) Terapia Narrativa: Ênfase na construção de narrativas sobre a vida e nos problemas, buscando resignificar histórias dominantes.
A Terapia Narrativa é uma abordagem psicoterapêutica pós-moderna que vê as pessoas como os principais autores de suas próprias vidas e os problemas como construções sociais e culturais que influenciam a forma como as histórias de vida são contadas e vividas. Em vez de considerar os problemas como inerentes aos indivíduos, a terapia narrativa os externaliza, separando a pessoa do problema ("O problema da ansiedade", em vez de "Eu sou ansioso").
A premissa central é que as vidas são vividas e compreendidas através de histórias, ou narrativas. Essas histórias são moldadas por experiências, relacionamentos, cultura e poder social. Muitas vezes, as pessoas ficam presas em "histórias dominantes" problemáticas que enfatizam suas dificuldades e limitações, obscurecendo outras histórias de resiliência, habilidade e esperança.
O objetivo da terapia narrativa é ajudar as pessoas a identificar e desafiar essas histórias dominantes problemáticas e a co-construir "histórias alternativas" mais ricas, complexas e empoderadoras sobre si mesmas e suas vidas. Isso envolve um processo de externalização, onde o problema é personificado e examinado como uma entidade separada da pessoa. Ao fazer isso, a pessoa pode começar a ver sua relação com o problema e identificar momentos em que o problema não estava presente ou teve menos influência (os chamados "resultados únicos" ou "exceções").
O terapeuta narrativo adota uma postura de curiosidade, respeito e colaboração, fazendo perguntas exploratórias que convidam a pessoa a descrever suas experiências de maneiras novas e a descobrir recursos e habilidades que podem ter sido negligenciados pela história dominante. Perguntas como "Como a ansiedade tenta te controlar?", "Houve momentos em que você conseguiu resistir à influência da tristeza?", ou "Quais são os valores importantes para você que a depressão tenta minar?" são típicas da abordagem.
Outras técnicas incluem a re-autoria, onde o terapeuta ajuda a pessoa a desenvolver e fortalecer histórias alternativas, conectando "resultados únicos" e outros eventos significativos que contradizem a história dominante. Isso pode envolver a exploração do passado, do presente e do futuro desejado, destacando os valores, as intenções e os compromissos da pessoa.
A terapia narrativa também considera o contexto social e cultural em que as histórias são construídas. Ela reconhece como o poder social e as normas culturais podem influenciar as histórias dominantes e marginalizar certas experiências. O terapeuta pode ajudar a pessoa a examinar essas influências e a desafiar narrativas opressivas ou limitantes.
Em resumo, a terapia narrativa busca capacitar as pessoas a se tornarem os autores preferenciais de suas próprias vidas, ajudando-as a se libertarem de histórias problemáticas e a construir narrativas mais ricas e cheias de possibilidades que reflitam seus valores, habilidades e esperanças. A ênfase está na colaboração, no respeito pela experiência da pessoa e na crença em sua capacidade de mudar sua relação com os problemas e de moldar seu futuro.
 

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