(1) Psicanálise Freudiana Clássica: Ênfase no inconsciente, impulsos sexuais e agressivos, fases do desenvolvimento psicossexual, mecanismos de defesa.
A psicanálise freudiana clássica, pedra angular da psicologia profunda, postula uma mente dinâmica e em grande parte inconsciente, influenciando profundamente nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos. Seu fundador, Sigmund Freud, revolucionou a compreensão da psique humana ao enfatizar a primazia do inconsciente, um vasto reservatório de desejos reprimidos, medos, traumas e impulsos primitivos, moldando nossa vida consciente de maneiras sutis e poderosas.
Freud descreveu a estrutura da psique em três instâncias interativas: o id, a fonte de energia psíquica bruta e desejos instintivos, operando sob o princípio do prazer, buscando gratificação imediata; o ego, que emerge para navegar a realidade externa, funcionando pelo princípio da realidade, mediando as demandas irracionais do id com as restrições do mundo; e o superego, a internalização das normas morais e sociais aprendidas, atuando como uma consciência crítica, impondo culpa e idealizações.
A teoria freudiana atribui grande importância às experiências da primeira infância, particularmente o desenvolvimento através das fases psicossexuais (oral, anal, fálica, latência e genital). Conflitos não resolvidos em qualquer dessas fases podem levar a fixações, padrões de comportamento repetitivos e características de personalidade específicas na vida adulta. O complexo de Édipo, durante a fase fálica, envolvendo desejos inconscientes pelo genitor do sexo oposto e rivalidade com o genitor do mesmo sexo, é um conceito central.
Os impulsos primários, a libido (energia sexual) e o tânatos (pulsão de morte/agressão), são considerados as forças motivadoras fundamentais do comportamento humano. A ansiedade surge dos conflitos entre essas pulsões, as demandas da realidade e as proibições do superego. Para lidar com essa ansiedade, o ego emprega mecanismos de defesa inconscientes, como repressão (manter pensamentos perturbadores fora da consciência), negação (recusar-se a aceitar a realidade), projeção (atribuir os próprios sentimentos inaceitáveis a outros), e muitos outros.
A terapia psicanalítica clássica visa trazer à luz esses conteúdos inconscientes e conflitos reprimidos, tornando-os acessíveis à compreensão e ao processamento consciente. Através de técnicas como a associação livre (expressar livremente os pensamentos), a interpretação dos sonhos (considerados manifestações simbólicas do inconsciente), e a análise da transferência (a repetição na relação terapêutica de padrões de relacionamento passados), o paciente gradualmente desenvolve insight sobre as raízes de seus problemas.
O processo terapêutico é geralmente longo e intensivo, buscando uma reestruturação profunda da personalidade. O analista assume uma postura neutra e interpretativa, ajudando o paciente a explorar seu mundo interno, desvendar os significados ocultos de seus sintomas e padrões de comportamento, e, finalmente, alcançar uma maior autoconsciência e resolução de conflitos psíquicos. A ênfase reside na história única do indivíduo, nas suas fantasias inconscientes e na dinâmica complexa entre as diferentes instâncias da sua mente.
(2) Psicologia do Ego: (Anna Freud, Heinz Hartmann, Erik Erikson) Foco nas funções do ego, adaptação à realidade e desenvolvimento psicossocial ao longo da vida.
A Psicologia do Ego, uma ramificação da psicanálise clássica, surgiu como uma evolução do pensamento freudiano, deslocando o foco primordial do id e dos impulsos inconscientes para as funções do ego. Enquanto Freud enfatizava os conflitos intrapsíquicos e as pulsões, os psicólogos do ego, como Anna Freud, Heinz Hartmann e Erik Erikson, passaram a investigar a capacidade adaptativa do ego, sua autonomia e seu papel na interação com a realidade externa.
Essa abordagem reconhece a existência do id e do superego, mas eleva o ego a um papel mais central e ativo. O ego é visto não apenas como um mediador passivo entre as demandas do id e as restrições do mundo, mas como uma estrutura psíquica com funções próprias e inatas, como percepção, memória, atenção, linguagem, raciocínio e controle motor. Essas funções egoicas permitem ao indivíduo testar a realidade, planejar ações, regular impulsos e se adaptar ao ambiente de forma mais eficaz.
Heinz Hartmann, um dos principais expoentes da Psicologia do Ego, introduziu o conceito de uma "esfera livre de conflito" do ego, referindo-se a áreas de funcionamento psíquico que se desenvolvem independentemente dos conflitos edipianos e das pulsões. Essas funções autônomas do ego são essenciais para a adaptação saudável e o desenvolvimento de um senso de self coeso.
Anna Freud, filha de Sigmund Freud, contribuiu significativamente para a compreensão dos mecanismos de defesa do ego em crianças e adolescentes, detalhando como o ego se protege da ansiedade e dos conflitos internos em diferentes estágios do desenvolvimento. Sua obra enfatizou a importância da observação direta do comportamento infantil para complementar a análise do inconsciente.
Erik Erikson expandiu a teoria psicanalítica ao longo de todo o ciclo de vida, propondo oito estágios do desenvolvimento psicossocial, cada um caracterizado por um conflito específico que precisa ser resolvido para um desenvolvimento saudável da identidade e do senso de competência. Sua teoria destacou a influência de fatores sociais e culturais no desenvolvimento do ego e da identidade.
Em contraste com o foco da psicanálise clássica na patologia e na resolução de conflitos inconscientes, a Psicologia do Ego também se interessa pelo desenvolvimento saudável, pela adaptação bem-sucedida e pela capacidade do ego de integrar experiências e construir um senso de self consistente e resiliente. A terapia orientada pela Psicologia do Ego busca fortalecer as funções do ego do paciente, ajudando-o a desenvolver melhores mecanismos de enfrentamento, aprimorar suas habilidades de adaptação à realidade e alcançar maior autonomia e integração psíquica. A ênfase se desloca da mera revelação do inconsciente para o fortalecimento das capacidades do ego para lidar com o mundo interno e externo.
(3) Teoria das Relações Objetais: (Melanie Klein, Donald Winnicott, Otto Kernberg) Importância das primeiras relações com os "objetos" (pessoas significativas) na formação da personalidade e psicopatologia.
A Teoria das Relações Objetais, uma influente escola dentro da tradição psicanalítica, representa um afastamento significativo do foco freudiano nas pulsões e na estrutura intrapsíquica (id, ego, superego).
Em vez disso, ela enfatiza a importância fundamental das primeiras relações interpessoais, particularmente a díade mãe-bebê, na formação da personalidade e no desenvolvimento da psicopatologia. Seus principais expoentes incluem Melanie Klein, Donald Winnicott, W.R.D. Fairbairn e Otto Kernberg.
O conceito central da teoria é o de "objeto", que não se refere a um objeto inanimado, mas sim à representação mental internalizada de uma pessoa significativa, geralmente os pais ou cuidadores primários. Essas representações internalizadas, carregadas de afetos e experiências interacionais, tornam-se os blocos de construção do mundo psíquico do indivíduo e influenciam seus relacionamentos posteriores ao longo da vida.
Melanie Klein, pioneira nessa abordagem, introduziu conceitos como as "posições" esquizoide-paranoide e depressiva, que descrevem as formas primitivas de organização psíquica do bebê.
Na posição esquizoide-paranoide, o bebê vivencia o self e o objeto como divididos em partes "boas" e "más" idealizadas e persecutórias, respectivamente, como um mecanismo de defesa contra a ansiedade destrutiva. A transição para a posição depressiva envolve a integração dessas partes, a percepção da ambivalência dos objetos e o desenvolvimento da capacidade de sentir culpa e preocupação pelo outro.
Donald Winnicott enfatizou a importância de um "ambiente facilitador" fornecido pela mãe (ou cuidador suficientemente bom) para o desenvolvimento saudável do self.
Ele introduziu conceitos como o "objeto transicional" (um objeto que conforta o bebê na ausência da mãe), o "verdadeiro self" (o núcleo autêntico do indivíduo) e o "falso self" (uma máscara defensiva desenvolvida para agradar os outros em ambientes não responsivos).
W.R.D. Fairbairn radicalizou a teoria ao argumentar que a busca por relações objetais é a motivação primária do ser humano, e não a satisfação pulsional.
Ele via a libido não como uma energia pulsional direcionada a objetos, mas como inerentemente objetal-buscadora.
As dificuldades psíquicas surgiriam de experiências relacionais insatisfatórias que levam à internalização de "maus objetos" e à divisão interna do self.
Otto Kernberg integrou a teoria das relações objetais com a psicologia do ego, focando particularmente nos transtornos de personalidade. Ele descreveu como falhas nas primeiras relações podem levar a uma fraca integração do self e dos objetos, resultando em dificuldades na regulação afetiva, nas relações interpessoais e na formação de uma identidade coesa. Sua teoria enfatiza a importância da transferência na terapia para trabalhar as relações objetais internalizadas e promover a integração psíquica.
Em essência, a Teoria das Relações Objetais desloca o foco da psicanálise do mundo interno pulsional para o mundo das relações internalizadas. Ela postula que a maneira como internalizamos e nos relacionamos com as figuras significativas da nossa infância molda profundamente nossa estrutura psíquica, nossos padrões de relacionamento e nossa vulnerabilidade à psicopatologia. A terapia orientada por essa teoria busca compreender e modificar essas representações internalizadas e os padrões relacionais disfuncionais através da relação terapêutica.
(4) Psicologia do Self: (Heinz Kohut) Ênfase nas necessidades do self (autoestima, coesão, idealização) e no papel das experiências de espelhamento e idealização no desenvolvimento saudável.
A Psicologia do Self, desenvolvida principalmente por Heinz Kohut, representa uma evolução significativa dentro da teoria psicanalítica, focando no desenvolvimento e na manutenção de um self coeso, saudável e integrado. Kohut argumentou que as necessidades psicológicas primárias do indivíduo giram em torno da experiência de ser reconhecido, valorizado e de ter um senso de pertencimento, necessidades essas que emergem das interações com os objetos-self.
Objetos-self são pessoas significativas no ambiente do indivíduo que desempenham funções essenciais para a formação e sustentação do self. Essas funções incluem o espelhamento (ser reconhecido e validado em suas experiências e sentimentos), a idealização (ter figuras admiráveis com quem se identificar e das quais se sentir parte) e a gemelaridade (sentir-se semelhante a outros, compartilhando experiências e um senso de humanidade comum).
Falhas nas respostas dos objetos-self às necessidades do self em desenvolvimento podem levar a deficiências no self, resultando em sentimentos de vazio, fragilidade, baixa autoestima, hipersensibilidade a críticas e dificuldades em regular as próprias emoções. Kohut descreveu diferentes tipos de necessidades do self e as patologias associadas às suas falhas, como os transtornos narcisistas, caracterizados por uma busca incessante por validação externa e grandiosidade compensatória.
A terapia orientada pela Psicologia do Self enfatiza a empatia do terapeuta e a compreensão das experiências subjetivas do paciente. O terapeuta busca funcionar como um objeto-self substituto, oferecendo as experiências de espelhamento, idealização e gemelaridade que foram deficientes no desenvolvimento inicial do paciente. Através dessa relação terapêutica, o paciente pode gradualmente fortalecer seu self, integrar suas experiências fragmentadas e desenvolver uma maior capacidade de auto-regulação e autoestima.
O objetivo da terapia não é primariamente a interpretação de conflitos inconscientes no sentido clássico, mas sim a reparação das falhas no self através de uma relação terapêutica responsiva e empática. O terapeuta busca compreender as necessidades do self do paciente e responder de maneira a promover a coesão, a vitalidade e a autenticidade do self. O processo terapêutico visa ajudar o paciente a desenvolver um senso de self mais resiliente, integrado e capaz de buscar relacionamentos interpessoais saudáveis e gratificantes. A ênfase está na experiência subjetiva do paciente e na restauração da sua capacidade de vivenciar-se como um indivíduo valioso e significativo.

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